Salseiro do mês...Vânia Rodrigues

A nossa rubrica do Salseiro do mês está de volta e, a nossa primeira convidada depois das férias é a Vânia Gonçalves Rodrigues, grande salseira que recentemente se estreou como bailarina, dando um show no espaço Latin Passion... Das Danças de salão às Danças Latinas, uma experiência única e que se nota na pista...

Quando é que despertou a tua paixão para a dança?

A minha paixão pela dança foi já muito tardia e tem apenas 1 ano e pouco. Ao contrário do que se possa pensar, esta começou(e ainda continua) nas Danças de Salão quando fui apanhada desprevenida e me puseram a fazer uma aula obrigada e contrariada... a turma já tinha algum tempo e foi uma comédia ver todos a ir para a esquerda e eu para a direita, todos para a frente e eu para trás!!!
No intervalo dessa fatídica aula já me estava a inscrever e desde esse dia que não houve outro na minha vida em que não dançasse, nem que fosse a passear pela casa, do corredor para a cozinha, do quarto para a sala... Pouco tempo depois a minha aula passou para as mãos do Professor Zacarias Machado, meu ídolo e mentor, que nunca deixou que a chama da dança em mim parasse de arder, que me ensinou a preserverança, a disciplina, o amor pela arte de mover o corpo aos mais variados ritmos... foi também graças a ele que num dos períodos mais críticos da minha vida dançante eu não desisti, permanecendo sempre a meu lado e eu ao seu, até hoje!! Foi neste momento crítico, em que cheia de ideias para espalhar a dança pelos cantos do Mundo, envolvida em todo o tipo de eventos que pudessem dar oportunidades a todos de se encontrarem na dança e entre si,independentemente da Escola ou Professor, tendo sido subitamente travada, de um modo injusto e brutal, como se o trabalho que estava a desenvolver fosse contra alguém e não a favor de todos... coisa que não vale a pena relembrar... Nesse momento, surgiu o Nelson Plácido, conferindo de novo alento à minha incontrolável vontade de dançar e fazer dançar, oferecendo-me a proposta irrecusável de me juntar ao seio da sua Academia, embora numa área que não era ainda a minha: as latino-americanas... assim, me integrei num grupo fantástico de pessoas que tem por único propósito a dança como um fim e não);De início foi muito complicado habituar-me à falta de rigidez, rotina e convenções das danças latinas, não conseguindo ainda valorizar e desfrutar da liberdade que estas me ofereciam... hoje em dia obtenho uma imensa realização ao explorar a dança em mim, ao descobrir-me e redescobrir-me numa expressão corporal que não julgava existir num corpo já domado pela rigidez das Danças de Salão. Concluindo, hoje divido-me entre várias paixões: as latino-americanas, as africanas, as Danças de Salão e dar aulas, sendo esta última a maior como um meio para atingir fins...

Se tivesses que eleger um ritmo, qual seria?

A Rumba, pois foi através desta que eu aprendia dançar Salsa,quando um dia percebi que a Salsa era apenas uma Rumba mais rápida, mas que contém todos os sentimentos, emoções, expressões e desejos desta... a mesma infinita dor de um amor perdido ou impossível, a mesma paixão, a mesma sensualidade, a mesma vontade de que aquele momento seja eterno, a mesma simbiose entre os corpos... a sensação que se parar de dançar nunca mais recuperarei aquele momento mágico, que serei prostrada para o vazio, o desejo de possuir e ser possuído... a dor de saber que aquele momento inevitavelmente terminará e nunca mais se irá repetir... A Rumba representa para mim a mais difícil das danças dada a exigência emocional que implica viver a dor e desespero de um amor inalcançável, sem o qual não podemos viver, mas que sabemos que não podemos ter para nós... a triste condição de saber que viveremos no eterno sofrimento de amar e não concretizar esse sentimento, do quão miseráveis seremos por não o poder fazer...É esta a forma como eu vivo a dança, imbuída num profundo sentido de drama,da história da dança e dos seus movimentos, independentemente de com quem esteja a dançar... a dança é para mim uma proposta que decidimos aceitar,depositando toda a confiança no parceiro, como se ele estivesse do nosso lado uma vida inteira... só com esta intensidade se pode desempenhar correctamente o movimento e expressão que cada acorde nos pede...

Se tivesses que eleger uma música de eleição, quando danças, qual seria?

Elejo, sem dúvidas "Eres todo en mi" de Ana Gabriel, a Rumba que toca no final do filme "Dance with me"... mas dado que não é uma música que passe nas pistas de danças reduzem-se aos dedos de uma mão as vezes que a dancei com par... em alternativa, adoro dançar a música "Seduceme" da La India, pois apela ao espírito da salsa romântica em todas as suas acepções,deixando ao cavalheiro a tarefa de nos seduzir, e à senhora a de se colocar no topo do seu altar para ser venerada e ponderar se acede ao não à investida de sedução.

Eras capaz de fazer da dança um modo de vida? Ambicionas um dia fazer?

Feliz ou infelizmente a dança é o meu modo de vida, para não dizer a minha vida... a dança é a mensagem que quero levar a todos os sítios que me for possível... ao contrário da maior parte dos dançarinos, as exibições não me preenchem nem completam, mas sim o saber o mais possível para o poder ensinar e transmitir, pois de nada serve o conhecimento se não o partilharmos e oferecermos ao mundo... O exemplo mais flagrante que tenho para dar é que me vêm as lágrimas aos olhos quando vejo a felicidade dos meus alunos quando finalmente conseguem concretizar um passo ou movimento... A consciência que a minha experiência no mundo da dança me deu é que a dança muda a vida das pessoas, e para muito melhor, daí que o meu maior prazer é poder apresentar-lha, ensinar a amá-la e a valorizarem-se a eles próprios... é ao conseguir fazer algo que não nos julgávamos capazes que começamos a ter mais percepção do nosso valor, das nossas capacidades e de que realmente só não somos capazes de fazer o que não tentarmos com verdadeira dedicação. Quanto ao futuro, só tenciono deixar de dar aulas quando as minhas pernas não mo permitirem, mas tenciono dividir com outras grande paixão Psicologia e o Ensino Pré-primário, com vista a tentar que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades, que as saibam criar para si quando assim não o é, tudo isto de acordo com os ensinamentos da Psicologia Positiva, que pretende prevenir e não intervir quando já é demasiado tarde...

Quais são os teus dançarinos de eleição?

Ora aqui está uma pergunta verdadeiramente difícil, porque a postura que eu gosto nos bailarinos masculinos prende-se muito às Danças de Salão... assim tenho de eleger o Oliver e o seu tecnicismo, a sua expressão dramática, a sua sensualidade e elegância. Como bailarina gosto muito da Ester pela sua elegância arrebatadora, posicionamento de braços e pernas e suavidade de movimentos... Devo referir que os meus critérios ainda se prendem muito às minhas raízes no Salão, pelo que são bastante tendenciosos, pois não aprecio acrobacias, embora goste de "lifts", e prezo muito a elegância, postura e "flow" em detrimento de outros aspectos...

A dança para ti, já se tornou um vício?

Sim, o pior deles... aquele que me arranca do sofá num terrível dia de Inverno, aquele que me arranca o mais sincero dos sorrisos e gargalhadas, aquele que me faz produzir endorfinas em série, aquele que me completa, aquele que é a minha vida, a minha forma de caminhar, o meu oxigénio... a minha grande paixão!!!

Qual é o teu diário de dançarino?

Vou tentar ser breve neste diário... de certeza que querem saber?! Vou-me tentar presumir aos momentos que mais me marcaram neste percurso...
Esta história começa em Maio de 2006 no Santo Adrião, fazendo aulas de Danças de Salão uma vez por semana, que rápido se tornou em todos os dias da semana pela mão do Professor Zacarias;
Em Outubro de 2006 ingressei na Academia Expressão numa turma de latinas de nível intermédio dado que já possuía algumas bases de Dança; Em Novembro de 2006 integrei o núcleo da Academia de Expressão na turma de animação e formação de latino-americanas e africanas;
Em Dezembro, Janeiro e Fevereiro tive parada depois de uma paragem respiratória e infecção pulmonar muito grave... morri de desespero por não poder dançar!!! Em Abril de 2007 comecei a acompanhar o Nelson Alves, hoje meu par, para dar aulas em Vieira do Minho, tendo posteriormente começado a dar a aula emparelha com ele;
Em Maio de 2006 formei par de dança com o Nelson, começando a projectar uma coreografia que ainda não está terminada...;
Em Julho de 2006 tive a minha 1ª exibição, apresentando uma coreografia feita em 3 tempos que quase acabou num ataque de nervos!!!
Hoje, pratico várias modalidades, estudo dança quase todos os dias e adoro conhecer pessoas com quem partilhar esta devoção!!!
Agora anseio pela nova época, novas turmas, novos desafios e sobretudo, espero evoluir sempre...

Quais são os espaços onde mais gostas de dançar? Porquê?

No Latin Passion, porque estou em casa e entre família, além de que é um espaço em plena ascensão, que reúne e acolhe todas as Escolas indiferenciadamente, algo que sempre fez parte dos meus sonhos quando ainda não fazia parte da Academia.
Também adoro o Muxima, pois a Paula e o Ricardo conseguem dar todo o conforto possível e imaginário a quem os visita, tratando-se de uma casa que alberga pessoas já com muitos anos de dança, tornando-se um desafio o intercâmbio entre linguagens corporais consoante a proveniência.

Se tivesses que descrever a dança numa palavra?

PAIXÃO!!!

Qual a experiência mais intensa na dança?

A minha experiência mais intensa foi, sem dúvidas, a minha 1ª exibição... indescritível a sensação de estar em palco, sentir o corpo todo a tremer, de ouvir os gritos de apoio, de ouvir os aplausos... não recomendo!!!;

Inicio na dança: Maio de 2006;

O Meu sonho é…. Ensinar...
Viagem de sonho: Todas desde que acompanhada por amigos!!!
O que te faz sonhar:
Livro : " Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago;
Filme :" Amor cão";
Música:" Unintended";
Grupo: Muse;


Esperem até à próxima dança...
Fernanda Duarte

Google