Mi Guapa!



A noite passava vagarosa… As cortinas esvoaçavam por causa de um vento abafado!
Levantou-se da cama, vestiu a melhor camisa, engraxou os sapatos de cordão e perfumou-se! Seguiu, caminho a cantarolar: “Elle vit la salsa.. .Elle vit la salsa… , numa voz grossa, rouca e quente. A mesma, que tantas vezes calara.


Esta noite seria diferente, ”Mi guapa”!


Entrou no clube que considerava um paradoxo interessante (velho nas paredes, jovem na aragem) e retirou o chapéu para cumprimentar o porteiro. Acendeu o charuto e de um trago na cuba, olhou à sua volta. Lá estava ela… Morena de coxa grossa, descoberta por um vestido contrastante! Sorridente! Caliente!
Excitava-o admirar o passo firme com os gestos dóceis. .. quase submissos, quase ofensivos!
Deixou o charuto e seguiu em direcção a ela. Agarrou-a pela cintura, fê-la rodopiar sobre si… Desnorteou-a … Puxou-a, afastou-a, perseguiu-a, enlouqueceu-a, num roçar de pernas profundo, promissor e desconcertante!


E as baquetas apressaram o ritmo, os guitarristas dedilharam com afinco e os cantores trautearam a sede, o desejo, a paixão!


Os corpos, esses rodavam pela sala velha do clube jovem, sempre mais juntos, cada vez mais, apenas um!


E quando o dia nasceu… A boca permaneceu calada, por outros motivos, quem sabe… Os corpos tinham sido sugados de um trago… e a musica parecia impenetrável, infindável e eterna. Como eterna é a experiência de uma paixão cubana, ao som de uma salsa mágica, numa forma de estar particular.

Esta noite foi diferente, mi guapa!

Google